A Reforma Tributária do consumo, trazida pela Emenda Constitucional nº 132/2023, estabeleceu um modelo de IVA Dual (CBS + IBS), que trará maior padronização e transparência ao sistema.
Um dos elementos fundamentais desse novo modelo é o CST (Código de Situação Tributária), que identifica a forma de tributação de uma determinada operação. Uma dúvida recorrente entre empresas e profissionais fiscais é:
A mesma NCM pode ter CST diferentes em notas fiscais de entrada e saída? A resposta é sim, e este artigo explicará os motivos e apresentará exemplos práticos.
O que é a NCM?
A Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é um código que identifica a natureza da mercadoria, permitindo padronização no comércio nacional e internacional.
Ela define o produto, mas não determina, por si só, a forma de tributação em cada operação.
O que é o CST?
O Código de Situação Tributária (CST) classifica a forma de tributação da operação.
Ele indica, por exemplo, se a mercadoria está:
Sujeita à tributação integral (débito e crédito de imposto);
Isenta, imune ou com alíquota zero;
Sob diferimento ou suspensão;
No regime monofásico (tributação concentrada em uma etapa).
Ou seja: o CST não está preso apenas à NCM, mas ao contexto da operação (quem vende, quem compra, destino, regime especial, etc.).
Por que a mesma NCM pode ter CST diferentes?
A mesma mercadoria (NCM) pode ter CST distintos em entradas e saídas porque:
Natureza da operação
Entrada pode ocorrer com diferimento (sem débito imediato de imposto).
Saída pode ser tributada normalmente.
Regime de tributação setorial
Produtos em monofásica: tributados integralmente na indústria/refinaria, mas desonerados nas etapas seguintes.
Responsabilidade pelo recolhimento
Em importações, o imposto é recolhido pelo comprador.
Em operações internas normais, o recolhimento é feito pelo vendedor.
Finalidade da mercadoria
Entrada para revenda pode ter CST diferente da entrada para uso/consumo.
Saída para contribuinte pode ter CST diferente da saída para consumidor final.
Exemplo prático 1 – Bebida no regime monofásico
Produto: Refrigerante (NCM idêntica).
Na entrada (distribuidor comprando da indústria):
A indústria já recolhe todo o imposto (monofásico).
O distribuidor lança a entrada com CST de tributação concentrada (sem crédito).
Na saída (distribuidor vendendo ao varejo):
A operação sai com CST de alíquota zero (já tributado na indústria).
Mesmo NCM, CST diferentes:
Entrada → CST: tributação concentrada.
Saída → CST: alíquota zero.
Exemplo prático 2 – Diferimento parcial
Produto: Grãos in natura (soja).
Na entrada (indústria comprando do produtor rural):
CST: diferimento → o imposto fica postergado para a etapa seguinte.
Na saída (indústria vendendo óleo refinado):
CST: tributação integral → débito normal de imposto, aproveitando créditos acumulados.
Quadro comparativo – Mesma NCM, CST diferentes
NCM (produto) | Operação | CST típico | Observação |
---|---|---|---|
Refrigerante | Entrada (distribuidor compra da indústria) | Tributação monofásica (sem crédito) | Indústria concentrou o imposto |
Refrigerante | Saída (distribuidor → varejo) | Alíquota zero | Já tributado na origem |
Soja in natura | Entrada (indústria compra do produtor) | Diferimento | Imposto postergado |
Soja refinada (óleo) | Saída (indústria → atacado) | Tributação integral | Débito normal |
Equipamento eletrônico | Entrada (importação) | Importação | Comprador recolhe imposto |
Equipamento eletrônico | Saída (varejo → consumidor) | Tributação integral | Venda tributada normalmente |
A NCM classifica a mercadoria, mas é o CST que define como ela será tributada em cada operação. Portanto, é totalmente possível – e esperado – que a mesma NCM apresente CST diferentes em notas fiscais de entrada e saída, já que cada operação pode ter tratamento tributário próprio.
Essa flexibilidade é essencial para que o sistema de IVA da Reforma Tributária seja justo e reflita as diferentes realidades de circulação das mercadorias.
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